A história do Eneagrama
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A história do Eneagrama é remota e incerta tendo os primeiros registos deste conhecimento sido encontrados na Babilónia.
Pitágoras
Pitágoras viveu entre (582 - 497 a. C.) foi um matemático e filósofo grego. Desenvolveu trabalhos na área da filosofia, música, moral, geografia e medicina.
Interessado na busca de conhecimentos sobre a ciência, números e religiões de outros povos foi para a Síria, Arábia, Caldeia, Pérsia, Índia e Egipto, onde se fixou e passou mais de 20 anos. Para conhecer melhor os Mistérios da religião egípcia, tornou-se sacerdote. Mais tarde na Babilónia, dedicou grande parte da sua vida a estudar e descobrir como se desenvolviam as ciências naquela região acabando por criar uma escola de desenvolvimento psicológico e espiritual para a realização do ser e escuta da vida interior.
O grande objetivo da sua vida era tornar-se livre, poder viver plenamente cada instante em harmonia com o universo. Para ele o 9 era a última etapa de realização do ser a que o homem pode aceder.
Para Pitágoras tudo era número. Pode apontar-se como uma das influências de Pitágoras no Eneagrama a compreensão da Lei do Um, da Lei do Três e da Lei do Sete.
Para Pitágoras a Mônada ou Um não era reconhecido como um número no sentido filosófico. Considerava que o Um seria a Unidade e o Todo, representando Deus e o Universo antes da Manifestação (criação do mundo). O Um representaria um ponto imensurável e adimensional. O Um adicionado a si mesmo produz o número dois, porém multiplicado por si mesmo permanece uno e inalterado. Por isso o Um é considerado Sagrado e também o mais positivo dos números existentes.
A Lei do Três ou Tríade resultaria da unidade com a Dualidade (um+dois), nascendo assim o número perfeito, também chamado por Terceiro Principio, Trindade de todas as religiões. É o número da forma, pois nada existe sem ter três dimensões (comprimento, largura e altura). Para Pitágoras 3 é também o número do Amor, por representar o mistério do produto da união do Ativo e do Passivo que gera o Filho. Representa, também a divindade na sua Força, Beleza e Sabedoria.
Estas ideias são representadas no Eneagrama pelo Triângulo, o mais simples de todos os polígonos possuindo apenas três lados.
Não deixa de ser interessante, também, lembrar que fora do círculo do Eneagrama existem nove números representado cada um deles um tipo de personalidade. Pitágoras ensina que os números não são simplesmente símbolos que exprimem grandezas ou valores. Os números constituem a própria essência das coisas, são entidades reais que por meio de combinações entre si, dão origem a todo o que existe. As coisas imitam os números e cada objeto, ser ou ideia, manifesta-se de acordo com uma estrutura numérica que lhe é inerente.
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A Lei do Sete ou Héptada, também foi compreendida e explicada de forma sublime por Pitágoras. Ele percebeu que o círculo, a circunferência e a esfera quando "envolvidos por seus semelhantes geram o número sete, independentemente do tamanho dessas figuras geométricas.
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Concluiu, então que o sete é o mais misterioso e esotérico de todos os números, que rege a manifestação e evolução, pois tudo o que evolui obedece a um padrão setenário, exemplo: sete notas musicais, sete cores da luz quando decomposta por meio do prisma ou do arco-íris, sete pontos de referenciais do espaço- alto, baixo, direita, esquerda, frente trás e centro.
Outro fantástico contributo de Pitágoras foi a descobrir que o sete tem a sua origem geométrica no três como se ilustra na imagem seguinte:
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Padres do deserto
Os Padres do Deserto foram um grupo influente de eremitas e cenobitas dos Séculos III e IV que optaram por viver no deserto egípcio. Foram os primeiros monges da Igreja Católica. Consideravam que o homem é responsável pelo seu próprio sofrimento uma vez que cria os esquemas de crenças que o fazem sofrer.
A felicidade passa pela tomada de consciência daquilo que sou (conhecimento de si mesmo), aceitação e preparação da mudança.
Entre os Padres do Deserto destaca-se Evagrius Ponticus que menciona nos seus escritos uma figura composta por um triângulo e uma circunferência.
Publicou um tratado onde descrevia as "doenças espirituais" que afligiam o ser humano, classificando-as de paixões por terem consequências tão danosas para o individuo. São os nove "descaminhos": a raiva, o orgulho, a busca da glória ou vaidade, a tristeza, a inveja, a avareza, a gula, a luxúria e a indolência.
Posteriormente essas paixões foram adaptadas pela igreja para definir os sete pecados capitais e acabam por ser incorporados também no Eneagrama.
A existência do pecado no "self" está nos pontos da nossa maior vulnerabilidade. Precisa do nosso reconhecimento misericordioso e aceitação antes de poder ser transformado ou curado.
É neste processo de reconhecimento e cura que Evagrius nos é muito útil. Ele acreditava que com paciência, disciplina, confiança, fé em Deus e rezas se podia encontrar a cura para as turbulências das paixões do coração e alcançar eventualmente a paz interior.
"A fonte da minha maior fraqueza é também a fonte do meu dom mais importante. Por meio da minha paixão posso descobrir o meu maior talento, e então a minha paixão será transformada e serei capaz de florescer o fruto divino que trago dentro de mim."
Sufismo
Dois séculos depois, na mesma área onde surgiram os Pais do Deserto, nasceu o Sufismo, a tradição mística do Islão. Para os Sufistas, jihad representava a guerra santa contra o ego. Eles seguiram os mesmos princípios pregados por Pitágoras: auto conhecimento e observação, viver o presente, deixar que cada ação fosse guiada por Deus, harmonia com o universo, busca de atividades físicas e artísticas, simbolismo dos números e meditação. Entretanto, os Sufistas usaram o Diagrama que deu origem ao atual símbolo do Eneagrama e a teoria das paixões de forma diferente da visão cristã do pecado e da paixão. Naquele momento, o Eneagrama ligou as culturas: Cristã e Sufista, hoje tão distantes, de uma maneira bastante criativa.
Gurdjieff
Gurdjieff viveu entre 1872 e 1949. Este filósofo e escritor viajou pela Ásia Menor de onde trouxe o Eneagrama. Crê-se que a sua formação teve influência da Igreja Ortodoxa, Sufismo e tradição Tibetana.
Foi o primeiro a mencionar o Eneagrama na Europa e a sua ligação com o comportamento. Utilizava este conhecimento para mostrar aos seus alunos até que ponto a fixação deles tomavam a primazia sobre o livre arbítrio.
O seu objetivo era incentivar as pessoa a despertar o observador interno, meditar e identificar a sua paixão para trazer mudanças efetivas. Proponha exercícios de crescimento para compreender e superar as vulnerabilidades da personalidade, assim se por exemplos intuísse que o medo era o principal traço de um de seus convidados, aconselhava-o a meditar sozinho num cemitério à meia-noite...
Como os Sufistas, Gurdjieff também usou o movimento para vivênciar o Eneagrama: colocava os alunos em nove estações em torno de um círculo e levava-os a executar cuidadosamente movimentos cujos padrões indicavam a dinâmica entre os pontos, às vezes seguindo os caminhos das setas dentro de um círculo, de 1-4-2-8-5-7.
Oscar Ichazo
Nasceu na Bolívia em 1931. Viajou pelo Médio Oriente onde teve contacto com o Eneagrama. Era professor no instituto de Psicologia Aplicada de Santiago do Chile e em 1970 organizou um estágio de onze meses em Arica (Chile) reunindo cerca de cinquenta "buscadores" do mundo inteiro e onde transmite diferentes técnicas de evolução espiritual.
Cláudio Naranjo
Nasceu no Chile era psiquiatra , terapeuta da Gestalt, professor, escritor e investigador. Tornou-se também membro honorário docente de Harvard e de Berkeley.
Recebeu o conhecimento do Eneagrama de Oscar Ichazo em 1970 e cria o sistema de aprendizagem do Eneagrama em painéis (forma de aprendizagem em que as pessoas do mesmo tipo, em conjunto, explicam aos outros como é a sua personalidade através e uma conversa guiada por um professor de Eneagrama).
Este sistema de painéis foi mais tarde desenvolvido por Helen Palmer na Escola da Tradição Narrativa.
Bob Ochs, O'Leary, Maria Beesing e Robert Nogosek
Bob Ochs fez parte do grupo de trabalho de Naranjo e em São Francisco em 1971 ensinava Eneagrama no quadro de desenvolvimento espiritual na Loyola University de Chicago.
Bob com os seus amigos publicam o primeiro livro sobre Eneagrama dos tipos de personalidade, rompendo assim o costume da transmissão oral deste conhecimento.
Helena Portugal