Agressividade ou defesa?

O Tipo 8 desenvolveu mecanismos para rejeitar e não mostrar qualquer tipo de fraqueza, necessidade ou vulnerabilidade. Acredita que para sobreviver e ser bem sucedido tem que ser forte. Os fortes abusam dos fracos e para ele estar na posição de fraco é intolerável.
Num ponto de vista mais profundo o Tipo 8 sente que a fraqueza, vulnerabilidade, abertura e recetividade foram as qualidades responsáveis pelo fato de sua alma sensível de criança ter perdido o contacto com a verdade interior, portanto, para se proteger precisa desenvolver uma força poderosa.
Torna-se duro, firme, forte, inflexível, inamovível para que ninguém mais o possa abusar de si. Arma uma fortificação ao seu redor, tornando-se impenetrável e nessa camada protetora preserva e resguarda a sensibilidade da sua alma.
Ao contrário da força da verdadeira essência, a falsa força que carateriza a personalidade do Tipo 8 é estática, rígida e inflexível. Ele é sempre firme, rijo e usa a mesma quantidade exagerada de força para tudo o que faz,
Endurecesse continuamente, como se essa rigidez fosse a mesma coisa que a força. Para os humanos a força não se mede pelo peso levantado nem pela capacidade de convencer ninguém, é preciso muito mais: a força do pleno poder da alma, para falar verdade diante de uma oposição ferrenha, para dizer a uma pessoa que a ama ou para baixar a guarda e admitir que errou ou que fez mal a outra pessoa.
A dureza que o Tipo 8 desenvolve para compensar a sua falta de contacto com a verdadeira força assemelha-se a uma armadura que cobre a alma. Para proteger o coração, ele procura rejeitar todas as emoções que considera fracas, medo, tristeza, vergonha, remorso, carência, desamparo, vulnerabilidade, saudade etc. Infelizmente ninguém consegue fechar o coração para um determinado conjunto de emoções sem fechá-lo para todas as outras, de modo que ele também inibe a própria capacidade de sentir a alegria inocente, a ternura do amor, o afeto, a compaixão, para mencionar apenas alguns dos sentimentos dos quais se separa.
Desde a infância que sufoca sentimentos nesse processo de endurecimento para se proteger das pessoas. Daí, a necessidade de se fazer incessível ao sofrimento ser enormemente reforçada pelo orgulho da invulnerabilidade. O seu desejo de calor humano e afeição, tanto de dar como de receber, originalmente tolhido pelo ambiente e sacrificado em vista da necessidade de triunfar, congela-se, e por fim, como resultado acaba por considerar-se, também indigno de ser amado.
Assim, quando se volta contra os outros, não tem nada a perder - já pensa que é impossível que eles o amem. Crê que as pessoas o odeiam de qualquer modo, então porque não podem pelo menos ter medo dele?
O ato de proteger-se acaba por separá-lo de vez de si mesmo e nisso está a ironia da defesa do Tipo 8. Ao endurecer o coração e rejeitar emoções suaves, perde a própria sensibilidade que lhe dá aceso à natureza interior da sua alma - a essência. O que começa como uma tentativa de proteger a alma termina por dissociar o individuo de sua verdade interior. Ao perder o contacto com o que dá vitalidade e vivacidade à sua alma fica com um sentimento de vazio dentro de si.
Por ter anestesiado o coração, tem pouca empatia, sensibilidade compaixão pelos outros e por si. A falta de empatia torna-o muitas vezes inconsciente do sofrimento dos outros e perde a amabilidade, não percebe os efeitos que o seu jeito brusco, rude e brutal tem sobre as pessoas. E se perceber não sente remorso, pelo contrário sente desprezo pela vulnerabilidade que o outro mostra. Não percebe porque as pessoas ficam melindradas ou mesmo profundamente magoadas, quando a seu ver está apenas a falar. Não tem a o noção do impacto que o exagero da força e agressividade contida nas suas atitudes e palavras provocam nas pessoas. Depois de dizer o que tem a dizer, no seu jeito arrasador, para ele o assunto fica resolvido.
Falta-lhe tolerância para subtilezas, gosta das coisas
absolutamente claras, sem rodeios, não quer ver o que há abaixo da superfície
de si mesmo, por medo de sentir falta de vitalidade que resultou do endurecimento
de sua alma. E muito menos quer abrir espaço para mostrar sentimentos de condescendência que possam
dar a entender algum ponto de vulnerabilidade. O ataque é a melhor defesa e faz questão de deixar bem claro à sua volta que consigo "ninguém faz farinha."
Helena Portugal