Tipo 4 do Eneagrama - Isolado, à deriva...

Para o Tipo 4 a perda de contacto com o Ser na primeira infância significa perder a perceção de si mesmo como um Ser inseparável do Todo. Disso resulta uma profunda sensação de dissociação da vida.
A identificação com o corpo, inevitável, é a identificação mais profunda do ser humano que vive no nível da personalidade e acaba por gerar a convicção de somos entes isolados. Em outras palavras: como o corpo é distinto de todas as outras coisas, acredita-se que somos, em última análise, entidades distintas.
Esta crença é a base sobre a qual assentam todas as características do Tipo 4, pois ele é particularmente sensível à ideia contrária consubstanciada na Origem Divina. Nela todas as formas de vida se originam de uma fonte comum e obedecem às mesmas leis naturais. O Ser é mais do que uma realidade física, é também a alma que habita o corpo e o anima, e todos os seres humanos fazem parte da mesma existência. Perdida a Ideia da Origem Divina o Tipo 4 é como um barco que se soltou das amarras.
Sente-se dolorosamente dissociado e separado das outras pessoas mas também, o que é mais importante, das sua profundeza interior. A sensação da perda do contacto com o Ser assemelha-se à sensação de ter sido abandonado ficando à deriva... A sensação de estar perdido pode manifestar-se como uma espécie de desorientação, de não saber onde está ou como chegou aí, de não estar realmente ligado a nada nem a ninguém, mas especialmente de não estar ligado a si mesmo.
No início, parece que a mãe ou a família se afastaram dele, mas lá no fundo trata-se da perda de contacto com ele próprio. O que fica é uma sensação de ausência, de estar perdido, como se a própria substância do seu Ser lhe tivesse sido retirada.
É enorme o anseio de religar-se, de ancorar-se de novo no vínculo perdido e este anseio por mais inconsciente que possa ser é um dos elementos centrais da psicologia do Tipo 4. É tão central que o sentido do "eu" do Tipo 4 se constrói em torno dele. O anseio acaba por ser mais importante que a obtenção da coisa pela qual se anseia: muitas vezes, as pessoas e situações que lhe oferecem constância e proximidade são incondicionalmente destruídas e rejeitadas. Porque depois de as obter, afinal percebe que não são essas coisas, pessoas ou situações que o preenchem, e assim justifica continuar a ansiar ou desejar algo novo, perpetuando esse estado indefinidamente...
Helena Portugal
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