Quanta dor há na vingança do 8...

O Tipo 8 perdeu contacto com o Ser na infância e passou a sentir-se separado ou dissociado do Todo, e guarda na sua memória a sensação de que algo terrível aconteceu numa fase em que ainda não conseguia formular o conceito de perda do contacto com ele próprio.
A sua alma sabe que perdeu a sensação de Unidade com o elemento mais precioso do seu Ser, e o ego cristaliza-se em torno dessa ideia. Da erradicação da convicção íntima de Unidade com o Ser resulta a noção do "eu" e do "outro", a dualidade, e a certeza de que alguém deve ter sido responsável por tal situação, e na sua personalidade vai desenvolver-se uma estrutura psicológica em que uma das preocupações centrais é saber quem é o culpado e retribuir pela vingança o erro cometido.
Assim, a vingança passa a ser a fixação do Tipo 8. Embora seja preciso muito trabalho interior para perceber, lá no fundo ele culpa-se a si próprio. Crê que deveria ter sido forte o suficiente, mesmo quando bebé, para resistir às forças do condicionamento da vida e não perder o contacto com o Ser. No seu íntimo ele acredita que é uma pessoa má por ter deixado isso acontecer, quando na verdade se trata de uma exigência muito grande para um bebé!
A ideia de ser, em última análise, uma entidade separada responsável pela perda de contacto consigo próprio é a origem provável da doutrina Cristã do pecado original. À semelhança de Adão e Eva, o Tipo 8 de alguma forma sente que foi expulso do Jardim do Éden por sua maldade. Ele culpa-se por isso, mas como essa culpa é tão difícil de tolerar projeta a culpa para fora, culpando os outros.
O ato de culpar os que o cercavam na infância e de ficar estagnado na raiva pelas coisas que então sucederam, não só impede de odiar a si mesmo como, também o protege da dor da perca do estado de plenitude da qual ficou a memória daquela "coisa preciosa", que em certa época, ele conheceu, (o contacto com a sua natureza profunda onde estava conectado ao Todo).
Pode até parecer que ele é demasiado duro consigo quando se culpa conscientemente e impiedoso dos que cuidaram dele na infância, mas o facto é que essa atitude o protege de algo que lhe parece muito pior: perceber e sentir a própria impotência.
Se tivesse percebido plenamente o seu desamparo, o quanto era indefeso, sua psique teria entregue os pontos, ele poderia inclusive nem ter sobrevivido, sobretudo se sofresse traumas severos na infância. A impotência, o desamparo e a vulnerabilidade interior perante os condicionamentos da vida, são o ponto central de sua fraqueza e constituem os sentimentos de que ele mais foge.
O Tipo 8 afirma para si mesmo que se tivesse sido mas forte, mais violento, se tivesse afirmado suficientemente as próprias convicções teria feito a mãe perceber o fundo da sua alma e teria assim conservado o contacto com o Ser. Se tivesse sido mais firme teria resistido à força do ego. Se tivesse sido mais duro teria posto freio a todos os maus tratos grandes e pequenos, cometidos contra si. Quando se lembra da infância ele acha que foi humilhado, explorado, castigado por motivos que nada tinham a ver com a sua pessoa ou a sua conduta. O que fica na sua alma é o sentimento de uma injustiça profunda e o mundo inteiro lhe parece mau, por isso vai desenvolver na personalidade uma armadura rígida em torno da sua alma para proteger a sua intimidade.
Helena Portugal