A inveja explicada pelos Tipos 4 do Eneagrama

No início nem se conhece a inveja porque a personalidade centra-se nas emoções internas que surgem com a comparação.

Na comparação o Tipo 4 desconecta-se, esquece-se de si próprio e surge uma dificuldade em se enraizar e dar corpo à emoção que sente.

A dificuldade em sentir a conexão com ele próprio existe, quase como um amortecer para evitar entrar em contacto e sustentar a sensação de carência no corpo.

O Tipo 4 olha para o contexto do outro e puxa essa história para dentro dele. Este mecanismo de introjeção é uma forma de inveja porque ao comparar-se descontado de si percebe nele uma parte dorida que o outro não tem e, então preferia ser o outro e não ele. Daqui vem a ideia de que ele existe através da dor. A inveja acaba por ser uma dor profunda, como se houvesse algo errado com ele. É uma sensação de ser diferente das outras pessoas. É uma zanga com Deus como se Ele tivesse dado mais coisas e capacidades aos outros do que ao Tipo 4.

No fundo a inveja começa na dor de se odiar a ele próprio por não conseguir ser o outro ou ter o que o outro tem e neste processo quando precisa tanto de suporte e conexão sente que ninguém compreende a sua dor subjetiva e emocional. Como consequência da inveja há uma retaliação contra o outro que nem percebe o que se passa.

Por outro lado, surge o movimento de expressar a sua originalidade de ser único e especial como compensação de se sentir inferior. Este sentimento de inferioridade que procura compensar com o sentimento de superioridade tem uma dor emocional de desconexão.

Como podemos ajudar o Tipo 4 nesta questão tão delicada da sua personalidade ?

Podemos ajudá-lo a reduzir o impulso da comparação com os outros lembrando-lhe que todos somos diferentes por isso pode começar a comparar-se mais com ele próprio para se conhecer melhor e ter consciência do que vai mudando na sua evolução. Realçar as coisas boas que ele conquistou, tudo de positivo que existe na sua vida presente para usufruir e as suas características únicas como pessoa, contrariam a tendência do Tipo 4 em se focar tanto no que lhe falta. O vicio da personalidade faz com que ele não veja e desvalorize tudo o que ele é e tem para puder continuar a alimentar e justificar a inveja.

Este exercício ajuda-o também a centrar-se mais nele próprio, a sentir-se mais no corpo (para travar a introjeção).

Num estado de consciência "trabalhado" o Tipo 4 começa a ganhar a noção que a inveja é uma violência contra o outro e o remorso e arrependimento que sente despertam-lhe a vontade de "curar" a inveja.

Neste testemunho, um dos Tipos 4 explica que a inveja tem perdido força desde que começou a vivenciar mais o estado de ser da sua essência. A perceção de que ela (a essência) é anterior à construção da personalidade dá-lhe a consciência de que a personalidade construiu um padrão que é falso e assim ganha a capacidade de se ir separando da inveja.

Helena Portugal