A (in)visibilidade do Tipo 5 do Eneagrama

15-11-2019

O Tipo 5 é uma pessoa muita recolhida, que atribui grande importância a estar sozinho e nem sempre lhe apetece ter pessoas perto de si.


Faz de discrição uma característica quase sempre presente, quer pelo tom de voz baixo, movimentos tolhidos, expressão corporal suave, conversa curta, quer pelo fato de se posicionar em lugares onde fique o menos visível possível. Estar afastado, na penumbra permite observar e alimentar a falsa convicção de que não é visto, logo não causa impacto nas pessoas. Chega a acreditar que é capaz de entrar e sair de num espaço sem que ninguém o veja.

O Tipo 5 sente que vive aprisionada dentro dos limites do corpo, fechado dentro de uma redoma onde se isola e protege dos acontecimentos frenéticos, inesperados e não lógicos da vida.

Com a visão de viver separado das outras pessoas fixa-se na sua alma um sentimento de privação equivalente ao que sentia na infância quando o contacto ou sustento que esperava da mãe foi percebido como negado. Neste ponto, cristaliza-se a sensação de ser invisível e com este sentimento desde criança, desenvolve a convicção de que os outros, também não irão perceber as suas necessidades, desejos e muito menos irão perceber o seu mundo interior.

A sua alma cristalizou-se no estado de bebé que depois de chorar e enraivecer-se por não ter as suas necessidades atendidas, é tomado pela apatia de si e como consequência começa a experienciar o distanciamento que o separa do Ser. E essa retirada torna-se a sua estratégia predominante na vida, fechando-se em si e preferindo permanecer na periferia dos acontecimentos e dos relacionamentos.

A "invisibilidade" do Tipo 5 é, também, em parte uma dissimulação. Ele esconde o pensamento, sentimentos e desejos sob um manto de indiferença. Não gosta de dizer onde está, atender o telefone e dificilmente quer dizer claramente o que está acontecer dentro de si.

Esta dissimulação mostra-se por, exemplo em situações onde em vez de expressar-se e arriscar enfrentar um desafio para o qual sente que não está preparado ou correr o risco de enraivecer alguém, esconder o que está a acontecer dentro de si. Pode concordar, mesmo tendo uma opinião diferente apenas para evitar argumentos e confrontos. Pode parecer dócil e que vai fazer o que o outro quer, mas na verdade faz o que ele próprio já queria - secretamente fazer. Age pela calada.

Embora no seu íntimo tenha o desejo de ser visto, acolhido, apreciado e amado, tem medo de tomar a iniciativa de se aproximar dos outros, e em vez disso, finge indiferença e espera passivamente que o outro o note e se não notar já era esperado que assim fosse. Por isso, a sensação de invisibilidade e de isolamento é ao mesmo tempo a fonte do seu sofrimento e o seu meio de defesa contra esse mesmo sofrimento.

A "invisibilidade" do Tipo 5 impede-o de aparecer demais e ajuda-o a evitar confrontos, mas também reforça o seu isolamento em relação aos outros. Ao perder a consciência da sua ligação às pessoas, perde também a consciência do vínculo que o une à própria vida, tanto dentro como fora de si. A sua própria vitalidade parece ser ténue e efémera, a sua energia, resistência e vigor parecem ser limitados. Sente-se pequeno, contraído e diminuído, dotado de uma presença delicada, as suas expressões e animação são momentâneas e fugazes.

Na sua "Invisibilidade" há uma resignação no sentido acreditar que é melhor não querer nada, enquanto isso, nutre uma visão pessimista da vida como se ela nada valesse.

É contido e refreado pela sua relutância de mover-se em direção a qualquer coisa e a raiz dessa relutância é medo da perda ou rejeição. Mesmo que queira ir não vê que haja espaço para si nos acontecimentos e relacionamentos. Porquê que alguém há-de ter o trabalho de integrá-lo no grupo ou nas situações? Acredita que ninguém tem obrigação de se importar consigo.

Assim, torna-se um observador da vida e não um participante ativo porque tem medo de dedicar-se e envolver-se demais. Tem medo de não de conseguir defender-se mental e fisicamente se for alvo de um ataque inesperado.

Tem medo, também, de não corresponder ao padrão de comportamento esperado e ser visto como um "Totó", de não saber o que conversar, ou não saber o suficiente sobre o tema para alimentar a conversa que possa surgir. Tem medo, porque não sabe como interagir com pessoas que não conhece e todas estas situações podem provocar uma grande tensão que paralisa o movimento de avançar em direção ao outro.

Confortável para a personalidade é ficar, num canto, a observar para perceber a dinâmica própria de cada situação, protegido pela sua "invisibilidade".

Helena Portugal

Helena  Portugal
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