A (im) perfeição do Tipo 1 do Eneagrama
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Para o Tipo 1 a perda do contacto com a sua natureza essencial equivale à perda do contacto com a perfeição intrínseca de tudo o que existe e, por conseguinte, com a perfeição dele mesmo.
Por força das distorções da personalidade deixa de perceber que tanto ele como a realidade é certa, íntegra e completa. A ausência dessa perfeição assemelha-se algo que não está certo, a algo errado. Então passa a sentir-se imperfeito e sente que há em si uma falha básica que o faz sentir mau ou errado por natureza.
Para voltar ao estado anterior de alegria é essencial que ele forme uma ideia do que é a perfeição para repor a harmonia.
Então, toda a sua energia instintiva vai direcionar-se na busca da perfeição, procurando a perfeição do Ser com a qual perdeu contacto, mas vai fazê-lo de forma distorcida pela personalidade usando critérios subjetivos.
Vai medir todas as coisas pelo seu ideal de perfeição e inevitavelmente, a realidade nunca está à altura dos seus critérios de perfeição, pois ele parece incapaz de considerar qualquer coisa perfeita, incluindo ele próprio. Daqui resulta uma severa auto critica na qual constantemente se submete a julgamento e se condena pelas suas imperfeições.
Claro que os juízos que ele faz sobre o bom e o mau são subjetivos e determinados pelas suas próprias tendências.
Uma vez determinado o que é bom e mau, procura melhorar a si mesmo e aos outros para os tornar bons, e, portanto, aceitáveis. E é desta forma que se vai relacionar com a vida.
Movido pelo sentimento de um erro profundo, o Tipo 1 está constantemente tentado a corrigir as coisas, o estado atual delas deixa-o inquieto e ansioso, pois elas nunca estão como deveriam estar. E assim, a busca da perfeição, torna-se a sua armadilha.
Quando alguém lhe faz ver algo que ele considera ser uma falha ou imperfeição experimenta um estado de sofrimento extremo. Um simples comentário pode traduzir-se imediatamente numa critica contra a qual reage de forma defensiva na esperança de reatar a avaliação íntima de si mesmo como uma pessoa boa.
Outra manifestação dessa necessidade de tornar as coisas boas é a intolerância em relação às emoções negativas. Tem extrema dificuldade em tolerar queixas, a tristeza e hostilidade tanto em si como nos outros.
Esforça-se e orgulha-se de se esforçar mais do que os outros para corrigir e melhorar as coisas.
Tem uma sensação de superioridade moral, movida por uma bússola interna que lhe aponta para o bem e para o mal. Quer a perfeição nem que seja à força.
O Tipo 1 dedicado ao que considera correto nem sequer concebe que possa haver mais de uma maneira de fazer as coisas corretas por isso não há espaço para opiniões diferentes da sua. Não se interessa pelos limites ou desejos dos outros uma vez que o "certo" na sua opinião vale mais do que todas as preferências pessoais.
Para ele tornar o mundo perfeito é a causa nobre e justa da qual é acérrimo defensor.
E o mecanismo utilizado na concretização desta ação funciona deste modo: embora se sinta fundamentalmente mau, tem alguma chance de se redimir porque sabe disso e está a tentar ser melhor, aliás se parasse de tentar melhorar as coisas perderia o único traço de bondade que pensa ter, e perderia, também, com isso a sua única esperança de reencontrar a perfeição perdida.
Qualquer limitação a esta ação seria perder a tentativa de salvação, porque considera que procurar melhorar tudo lhe confere nobreza e neste processo deixa de ver as próprias imperfeições que frequentemente ficam guardas no subconsciente.
A manifestação da perfeição do Tipo 1 pode nem sempre passar pelo aspeto físico que o transforma num "maníaco" da arrumação ou limpeza, pode manifestar-se mais a nível psicológico, com a arrumação de ideias, critérios, valores e conceitos a seguir.
Quando o Tipo 1 se torna mais consciente de si, acaba por perceber o quanto vive preocupado com o cumprimento do dever e ocupado em corrigir ou melhorar o mundo, consegue discernir os exageros e efeitos prejudiciais que essa forma de encarar a vida lhe trazem. Percebe que pode realizar os seus desejos, permitir-se divertir e gozar a vida e continuar a ser uma boa pessoa porque isso é correto.
Helena Portugal
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